Exu Sete Portas: A Coragem de Girar a Chave na Encruzilhada da Vida

O Chamado na Porteira

Saravá, meu irmão, minha irmã de fé. Chega mais perto, acende a vela da curiosidade no coração e firma o pensamento. Hoje a prosa é de fundamento, é de caminho, é de força pra encarar o que a vida embaraça na frente da gente. Vamos falar de Exu, mas não de um Exu qualquer. Vamos falar Daquele que guarda não uma, mas sete chaves, sete passagens, sete mistérios: Exu Sete Portas. Ou seria Sete Porteiras? Na boca do povo, nos pontos cantados, nos relatos dos mais velhos, os nomes se cruzam, mas a força é uma só: a força que destranca, que movimenta, que não deixa filho de fé ficar parado no tempo, comendo poeira de dúvida.

Ele é entidade de Umbanda, sim, com raiz fincada na terra preta da África, mas florescido aqui, no nosso Brasil de tantos santos e tantos guias. Figura imponente, olhar que atravessa a gente, presença que não pede licença, chega e mostra a que veio. Dizem os antigos, como aquela preta velha de 82 janeiros bem vividos contou, que “esse é antigo”, Exu de hierarquia, de saber profundo. Ele não é o medo que assombra, como muito Zé Ninguém gosta de pintar por aí por pura ignorância. Não. Exu Sete Portas é a própria coragem de olhar o escuro da porta fechada e dizer: “Eu vou ver o que tem lá”. É o guardião que não só vigia a encruzilhada, mas entrega a chave pra quem tem a ousadia de pedir e a firmeza de girar.

Este escrito nasce de um saber antigo, um manuscrito que chegou como um sopro, lembrando a lição desse Exu: a vida é feita de portas, e a inércia é a pior tranca. Mas vamos além, vamos beber em outras fontes, ouvir outras vozes, pra entender melhor a força desse Guardião que nos desafia a não temer o desconhecido, a não deixar que a hesitação nos roube o passo firme no caminho que é nosso por direito e por merecimento.

As Sete Chaves e a Encruzilhada Pessoal

Mas por que Sete Portas? Ou Sete Porteiras? O número sete, ah, esse tem mistério antigo, tem força de fundamento em muitas caminhadas espirituais. Sete são as linhas da Umbanda pra muitos, sete são os dias da semana que a gente labuta, sete são as cores que o arco-íris estende no céu depois da chuva forte. Sete pode ser conta de mistério, de totalidade, de ciclo que se fecha pra outro começar. Pra Exu Sete Portas, cada porta dessas pode ser um portal pra um campo da vida: o amor, a saúde, o trabalho, a família, o conhecimento, a fé, a própria jornada do espírito. Ele não guarda só a porteira do terreiro, não, meu irmão. Ele guarda as porteiras da nossa própria existência.

Ele chega na Gira, forte, vibrante, às vezes risonho, às vezes sério, mas sempre direto. Traz na mão, dizem, não uma, mas sete chaves. Chave abre, mas chave também tranca. Exu Sete Portas tem o poder de abrir o caminho que tá amarrado, aquela porta emperrada que não deixa a prosperidade entrar, que não deixa a alegria fazer morada. Mas ele também sabe a hora de trancar a passagem pro abismo, de fechar a porta pra energia ruim, pro obsessor que ronda querendo brecha. Ele é o equilíbrio na encruzilhada. A encruzilhada não é lugar de perdição, como pensa o povo que não sabe; é lugar de escolha, de decisão, onde todo caminho é possível. E é ali, nesse ponto de força, que Exu Sete Portas reina, mostrando que pra cada escolha existe uma porta, e pra cada porta, uma consequência.

A Coragem de Não Ser Sombra de Si Mesmo

A lição que ecoa do manuscrito, aquela voz antiga e certeira, é a lição desse Exu: “Mesmo quando você não sabe o que existe atrás de uma porta, abra.” Isso não é convite pra imprudência, pra se jogar de qualquer jeito. É chamado pra coragem. A coragem de enfrentar o frio na barriga, a dúvida que rói por dentro, a voz miúda da insegurança que sopra no ouvido: “E se der errado? E se for pior?”. Exu Sete Portas sabe que o medo faz parte. Ele não pede pra gente não ter medo. Ele pede pra gente ir apesar do medo.

Porque a inércia, ah, essa sim é kiumba traiçoeiro. Ficar parado, ruminando o “e se”, é deixar a vida passar do lado de fora da porta. É escolher não viver por medo de sofrer, é escolher não aprender por medo de errar. Como ele mesmo diz, na clareza que corta como faca amolada: “Hesitação também é escolha”. E que escolha triste é essa, de se manter pequeno, de não se testar, de não descobrir a força que mora escondida dentro da gente? “Deixar uma porta fechada por medo não impede que a vida continue. Só impede que você caminhe com ela.” É a pura verdade. O tempo não para, o sol nasce todo dia, a lua gira no céu. A vida segue seu curso, com ou sem a nossa participação ativa. Ficar parado é virar sombra de si mesmo, é assistir o próprio enterro em vida.

Cada Porta Aberta: Uma Lição, Uma Força

E não se iluda, filho, filha. Exu Sete Portas não é vendedor de ilusão, não promete jardim florido atrás de toda cancela. Ele é Exu, ele lida com a verdade nua e crua da existência. Algumas portas vão se abrir pra paisagens que acalmam a alma, pra encontros que somam, pra conquistas que fazem o peito estufar de orgulho. Axé! Agradece e segue.

Mas outras portas... ah, essas vão ranger nas dobradiças e revelar caminhos de espinho, chão de pedra, talvez até o breu de um abismo que a gente não esperava. É nessa hora que o coração gela, que a vontade fraqueja, que a gente pensa: “Pra que fui mexer nisso? Melhor tivesse ficado quieto no meu canto”. É aí que a voz firme de Sete Portas ecoa mais forte, não pra te passar a mão na cabeça, mas pra te lembrar do fundamento: “Mesmo essas [portas] têm seu valor: mostram onde não se deve pisar e ensinam a dar passos mais firmes.”

Entende a profundidade disso? Abrir a porta errada não é fracasso, é aprendizado. É descobrir o limite, é entender o que não serve, o que não é pra você. É como mapear o terreno da própria vida. Cada “não” que a gente encontra, cada beco sem saída, cada tropeço, ensina mais sobre o caminho certo do que mil mapas desenhados por outros. Exu Sete Portas, como bom guardião, não te impede de errar o caminho às vezes, mas ele garante que, se você tiver olhos de ver e ouvidos de ouvir, sairá dessa passagem mais forte, mais sabido, com a sola do pé mais grossa pra aguentar a caminhada.

Ele não promete que toda porta leva ao destino sonhado, mas garante, com a força da sua palavra que é lei na encruzilhada, que “toda porta aberta é um avanço”. Mesmo que seja pra descobrir que ali não é o seu lugar e ter que dar meia-volta. Porque a pior prisão não é a do erro, é a da dúvida eterna, do medo que paralisa. “Quem nunca abre portas, nunca sai do lugar.” É a sentença final, o ponto firmado desse Exu que exige movimento, ousadia, confiança na própria força e na proteção dos guias.

Girando a Chave com Fé e Coragem

Então, meu irmão, minha irmã, quando a vida te colocar diante de uma porta fechada, seja ela qual for – um novo emprego, um novo amor, uma mudança de cidade, uma decisão difícil, um desafio que parece grande demais – lembra de Exu Sete Portas. Lembra da força desse Guardião que não te quer parado, estagnado, refém do medo.

Ele te entrega a chave, mas quem tem que ter a coragem de colocar na fechadura e girar é você. Ele te mostra a encruzilhada, mas quem tem que escolher o rumo e bancar a escolha é você. Ele te protege, te intui, te fortalece, mas quem tem que dar o passo é você.

A vida, na sabedoria da Umbanda, é movimento constante, é aprendizado contínuo. E Exu Sete Portas é o Orixá, a entidade, o Guia que personifica essa verdade. Ele é o impulso que faltava, a faísca de coragem no breu da incerteza. Peça a ele firmeza no passo, clareza na mente e força no coração. Mas não espere que ele abra a porta por você. A responsabilidade final, a beleza da conquista, o aprendizado da jornada, isso é seu.

Que Exu Sete Portas abra seus caminhos, não te deixando perder as oportunidades que a vida oferece por medo ou inércia. Que ele te dê a sabedoria para discernir qual porta abrir e a coragem para seguir adiante, mesmo quando o que há do outro lado é desconhecido. Porque cada porta aberta, seja pra ficar ou pra seguir, te aproxima um pouco mais de quem você realmente é e do seu verdadeiro destino. Laroyê, Exu! Exu é Mojubá!