O Terço de Vovó Maria do Rosário: Um Chamado que Não se Ouve com os Ouvidos
por Santiago Rosa
Na gira que o tempo parou, onde o cheiro de arruda e alfazema abraçava a alma, e o cachimbo de Vovó Maria do Rosário exalava sabedoria ancestral, a filha, protegida pelas bençãos dos Pretos Velhos, sentiu o chamado. Não era um chamado de voz, mas de alma, um sussurro que vinha do fundo do gongá, da raiz mais profunda do ser. Naquele chão sagrado, onde a fé se fazia carne e a espiritualidade era o próprio ar que se respirava, o invisível se fez presente, e o sagrado tocou o profano de um jeito que só o terreiro sabe fazer.
As mãos calejadas de Vovó, que já haviam plantado tantas sementes de esperança e colhido tantas dores, estenderam-se. Não era um gesto qualquer, era a própria história de um povo, a resiliência de uma raça, a força de uma ancestralidade que se materializava. E ali, entre o balançar das saias e o murmurar das preces, um terço singelo, feito de contas e de fé, repousou na palma da mão da filha. Não era apenas um objeto, era um pedaço do céu, um elo inquebrável com o divino, um cordão umbilical que ligava o presente ao passado, o visível ao invisível.
Cada conta daquele terço trazia consigo a memória de um lamento, a força de uma superação, a doçura de um acalanto. Era a proteção de Vovó Maria do Rosário, a guardiã dos caminhos, a senhora das rezas, a mãe que acolhe e ampara. Era a certeza de que, mesmo nas noites mais escuras, a luz da fé não se apagaria. Era um convite à oração, à meditação, à conexão mais profunda com as entidades e os Orixás, um chamado para fortalecer a fé e elevar o espírito.
Receber aquele terço era mais que um presente, era um batismo de alma, um selo de confiança, um pacto de amor e proteção. Significava que Vovó Maria do Rosário, com sua sabedoria milenar e seu amor incondicional, estava ali, presente em cada passo, em cada suspiro, em cada desafio. Era a confirmação de que a caminhada espiritual seria guiada, que as energias negativas seriam afastadas, e que novos aprendizados e curas espirituais se fariam presentes.
Assim, o terço de Vovó Maria do Rosário não era apenas um adorno, mas um amuleto de poder, um farol na escuridão, um abraço apertado que acalmava a alma. Era a manifestação do amor de uma Preta Velha por sua filha, a prova viva de que a fé move montanhas, e que a conexão com o sagrado é o maior tesouro que se pode ter. Era a certeza de que, na gira da vida, a proteção de Vovó Maria do Rosário estaria sempre presente, guiando, amparando e abençoando a filha protegida.



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