OGUM, ZUMBI E A ESPADA QUE NÃO SE EMBRULHA PARA A HISTÓRIA

Abril não é mês de flor.


É mês de facão afiado na lua nova,
de Quilombo do Macaco sussurrando nos dedos de Ogum.

Zumbi não morreu.
Ele virou fumaça no cano da espingarda,
virou o grito que Ogum guardou no coldre de couro cru.
Todo homem negro com cicatriz nas costas
carrega um pedaço da espada deles.
— a que não verga, nem quando a história mente.

Dizem que no último dia,
quando os dragões de fogo cercaram Palmares,
Ogum apareceu de chapéu de couro,
com a lâmina dele feita de ossos de antepassados.
Zumbi riu.
Não de alegria—de reconhecimento.
"Eu sabia que você vinha.
Deus de guerra não abandona os seus."

E não abandonou.
Porque Ogum não é só orixá—
é o punho fechado de Luiz Gama nos tribunais,
é o ferro que Dandara escondeu no tranço antes do salto.
É o processo jurídico que vira arma,
o verso que corta mais que navalha.

"Minha espada não é só aço—
é letra de lei, é verso de jornal,
é o silêncio da senzala que explode em tribunal.


Santiago Rosa

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