De Onde Vem Nanã

Nanã vem do princípio de tudo. Ela nasceu do ventre úmido da terra, quando o barro ainda não tinha forma, mas já guardava em si o segredo da vida. Sua origem está nas águas paradas dos pântanos, onde o tempo parece não passar, mas também não para. É lá, no silêncio profundo, que repousam os ossos dos antigos, cobertos por um manto de histórias esquecidas.

Ela é filha do silêncio e da memória. Sua força vem das raízes que atravessam o solo, buscando no fundo da terra o alimento daqueles que já partiram. Nanã carrega consigo o peso das histórias que nunca foram contadas, das lágrimas derramadas em segredo e dos sonhos que nunca se transformaram em palavras. Ela é a guardiã dessas memórias, a senhora que tece o passado com o presente, unindo os fios da existência em um único tecido.

Sua ancestralidade é feita de dor e de glória. Dor dos que foram arrancados de suas terras, levados para longe de tudo o que conheciam. Glória dos que resistiram, dos que plantaram sementes em solo estrangeiro e fizeram brotar novas vidas. Nanã é a mãe que nunca esquece, a que guarda cada história, cada luta, cada vitória.

Ela olha para seus filhos com olhos de compaixão, porque sabe que a vida é feita de ciclos. Sabe que cada um deles carrega em si o barro que ela moldou, as marcas de seus dedos e as histórias de seus ancestrais. Nanã não julga. Ela acolhe. É o colo que afaga, o abraço que protege, a voz que sussurra: "Você não está sozinho."

Quando Nanã convoca os espíritos, é como se chamasse a si mesma. Ela sabe que a criação não é um ato solitário. Precisa das águas, da terra, do fogo, do ar. Precisa dos ancestrais, daqueles que vieram antes, dos que plantaram as sementes que hoje florescem. Nanã une forças, tece alianças, faz do barro uma obra coletiva. Cada filho seu é moldado não apenas por suas mãos, mas pelas mãos de todos os que vieram antes dela.

Ela não cria apenas corpos, mas almas. Cada filho de Nanã é um universo, uma história que se desenrola, um destino que se cumpre. Ela não cria apenas para o agora, mas para o sempre. Para que a memória nunca se perca. Para que a vida nunca cesse.

De onde vem Nanã? Ela vem de todos os lugares e de lugar nenhum. Vem do barro, das águas, da terra, do céu. Vem dos sonhos, das lutas, das dores, das vitórias. Vem do passado, do presente, do futuro. Nanã é a mãe que nunca descansa, a força que nunca se esgota, o amor que nunca acaba.


Santiago Rosa

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