Este Texto Não É Para Todos: Só Para Quem Cansou de Carregar a Tristeza no Lombo e Quer Laçar a Própria Esperança.

por Santiago Rosa

Ah, minha gente, quem nunca sentiu o peso da tristeza amarrar os pés, feito grilhão invisível que rouba o passo e apaga o brilho do olhar? Quem nunca viu a alma murchar, como flor de mandacaru em tempo de seca braba, quando a água da alegria parece ter sumido da terra? Essa dor, essa secura que aperta o peito e faz a gente se encolher, é um bicho danado que se aninha nas frestas da vida, prometendo um inverno sem fim. Mas eu vos digo, com a força que vem da terra e a sabedoria que brota do chão: essa não é a sina de quem carrega o sol no peito e a força dos ancestrais nas veias. Há um caminho, um riso que espera, uma dança que liberta. E eu, que já vi a escuridão e encontrei a luz no meio do sertão, venho te contar como desatar esses nós e fazer a vida florescer de novo, com a coragem de quem laça o próprio destino.



Essa tristeza, que se arrasta feito cobra sem veneno, mas que envenena a alma, é a mesma que faz o corpo pesar, a voz sumir e o riso se esconder. Ela se veste de cansaço, de desânimo, de um vazio que parece não ter fim. É a poeira que cega os olhos para a beleza do dia, o espinho que fura o pé na caminhada, a sede que não se sacia mesmo com a chuva mais farta. Ela te faz esquecer quem tu és, de onde vieste, e a força que corre nas tuas veias, a mesma força que fez teus avós e bisavós fincarem o pé nessa terra e fazerem brotar vida onde só havia aridez. Essa dor é um roubo, um assalto à tua própria história, um apagão na tua luz mais antiga.

Mas escuta bem o que te digo, com a voz que ecoa das serras e o axé que vem dos terreiros: não há noite que não encontre o dia, nem seca que não seja vencida pela chuva. Eu, João do Cangaço, que vi a fome e a miséria, que senti o sol castigar a pele e a saudade apertar o peito, aprendi que a maior riqueza não está no ouro, mas na coragem de ser quem se é, na alegria de viver e na fé que move montanhas. Eu te prometo, com a firmeza de quem laça um touro bravo e o faz manso, que é possível transformar essa pedra no alforje em semente de esperança, essa secura em fonte que jorra vida. Eu te guiarei pelas veredas da alma, mostrando como o laço que antes prendia pode se tornar o abraço que liberta, e como a sabedoria do sertão, essa que vem da terra e do céu, pode te ensinar a discernir o joio do trigo, a apartar a boiada da tristeza e a encontrar a tua própria boiada da esperança. Prepare-se para desenterrar a força que dorme em ti, para vestir a pele da coragem e para dançar a dança da tua própria liberdade. A promessa é grande, eu sei, mas a tua força é maior. E eu, que já vi o milagre acontecer, te convido a caminhar comigo por essa estrada de reencontro e florescimento. Axé!

Quem tu és, meu filho, minha filha? Lembra daquele tempo em que a gente se via no espelho d'água e reconhecia a força dos nossos? Pois é, a vida, às vezes, embaça essa imagem, cobre com a poeira do caminho, faz a gente duvidar da própria semente. Mas a verdade é que tu és feito mandacaru, que resiste à seca mais braba e ainda assim floresce, espalhando beleza no deserto. Tu és como a pedra do rio, que a correnteza bate, mas não quebra, apenas lapida. A tua identidade não é algo que se perde, mas algo que se descobre, se lapida, se fortalece a cada passo, a cada tombo, a cada levante.



João do Cangaço, com sua sabedoria de sertanejo, não falava de livros, mas de vida. Ele dizia que "ensinar a apartar boiada não é só sobre gado, não. É sobre discernir o que presta do que não presta, separar o joio do trigo, o espinho da flor." E o que isso quer dizer pra ti, que busca a tua verdade? Quer dizer que é tempo de olhar pra dentro, de separar o que te serve do que te pesa, o que te eleva do que te arrasta. É tempo de reconhecer a tua própria boiada, essa que carrega os teus sonhos, os teus talentos, a tua essência mais pura. Não deixes que a voz do medo, da dúvida, do "não posso" te impeça de laçar a tua própria esperança. O laço de João não era de aprisionar, mas de guiar, de trazer pra perto o que é teu por direito.

Ele também ensinava que "a tristeza, se a gente deixa, vira corrente que prende os passos, mas a alegria é feito vento que empurra a vela da jangada." E essa alegria, meu irmão, minha irmã, não é a alegria fútil, de riso fácil. É a alegria que nasce da coragem de ser quem se é, da gratidão pelo caminho percorrido, da certeza de que o Pai Oxalá não desampara quem anda com o coração limpo. É a alegria que te faz levantar o chapéu, encher o peito de ar e seguir firme, com a alma lavada e o couro curtido, pronto para as novas veredas. Lembra-te: "Quem laça a vida com coragem e retidão, nunca perde a boiada da esperança." Essa é a tua herança, a tua força, a tua verdade. Que assim seja, e que o axé te acompanhe!

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