Zé do Laço e a Sabedoria das Coisas Simples

Era no terreiro batido do interior, entre galhos retorcidos e ventos que carregavam histórias, que Zé do Laço se fazia ouvir. Um homem de sorriso largo e pés rachados, que falava mais com os olhos que com a boca. Seu chapéu surrado escondia fios de cabelo que o tempo pintara de prata, mas o que brilhava nele era o saber. Não o saber dos livros ou das letras compridas, mas o saber do chão, da vida vivida e das coisas pequenas que ninguém mais via.

“Num é o ouro que faz a vida valer, é o brilho das manhãs, o cheiro do café passado e o canto da passarinhada. Isso é riqueza que ninguém pode roubar,” dizia ele, ajeitando o laço no ombro, como quem carrega o peso de uma verdade simples, mas profunda.

Era assim que Zé caminhava pelo mundo: atento aos detalhes que outros deixavam passar. O vento soprava um segredo antigo, e ele ouvia. Uma folha se desprendia do galho, e ele sabia que ali havia poesia. No barulho do rio, entendia as mágoas das águas e também suas alegrias.

“Cê sabe o valor de uma palavra dita com carinho?” perguntava, a quem quisesse ouvir. “Ou do abraço de uma vó, com os braços cheios de história e amor? A vida ensina, mas nem todo mundo aprende. Eu aprendi foi com a simplicidade, com as mãos sujas de terra e o coração aberto pras miudezas.”

Zé do Laço tinha um jeito de ensinar sem parecer professor. Era no meio de uma conversa solta, ou enquanto preparava o fogo pra esquentar a água, que ele plantava sementes de sabedoria. "Valorizá as coisas simples, isso é dar respeito à vida. Um café quente num dia frio, um pão dividido na mesa, a mão que ampara. É disso que se vive. Quem corre só atrás do grande perde o pequeno, e sem o pequeno, amigo, o grande nem existe."


E o povo ouvia. Não porque Zé falava alto, mas porque falava certo. Ele carregava nas palavras o peso da terra e a leveza do céu. Era um homem que sabia olhar e sabia sentir. Para ele, um sorriso era ouro, um olhar sincero era diamante, e o tempo gasto com aqueles que amamos era o maior tesouro que alguém podia ter.

“Num dia desses, o mundo corre tão depressa que ninguém vê o que tá perdendo. O cantar do sabiá? Passou. O cheiro da chuva na terra seca? Esqueceram. E eu digo: aprende a olhar! Aprende a ouvir! Que é nas pequenas coisas que a vida se derrama.”

Quando Zé do Laço partiu, levou com ele o segredo de muitos mistérios, mas deixou plantadas raízes profundas no coração de quem ouviu suas palavras. Quem viveu seus ensinamentos passou a enxergar o mundo de outro jeito: com os olhos cheios de detalhes e o coração transbordando gratidão.

E assim, na lembrança de um homem simples, o pequeno virou grande, e a simplicidade mostrou sua grandeza.


Santiago Rosa

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