Amor de Mãe, Colo de Tenda de Cigana Celeste

 Era meu desejo ser mãe. Não pari.

Mas a vida, com suas mãos invisíveis, me empurrou para outro lugar. Ser mãe, descobri, não é só um gesto do corpo; é também uma decisão do coração. Assim, mesmo sem filhos que chamassem meu nome, me tornei mãe de muitos.

Eles chegavam sem aviso, carregando olhares cansados, histórias cheias de pausas e suspiros. Vinham com as costas curvadas, como se o peso do mundo tivesse encontrado ali o seu repouso. No começo, eu apenas ouvia. Descobri, na escuta, um ato de amor. Não era preciso dizer nada, porque os olhos deles contavam mais do que palavras poderiam.

Foi assim que aprendi a ser colo. Não um colo físico, mas um lugar de descanso. Um refúgio feito de palavras doces e gestos lentos. Havia dias em que eu só oferecia silêncio, mas até o silêncio pode ser abraço, quando vem com intenção de cuidado.

Houve quem chorasse no meu ombro. Houve quem apenas se deitasse no chão da minha tenda e olhasse o céu, como se procurasse respostas nas estrelas. Eu não tinha todas as respostas. Não sou dona do futuro. Mas, como cigana, sei ler o que as almas trazem escrito.

E cada alma que passava por mim me ensinava algo novo. Ensinaram-me que ser mãe não é sobre criar raízes em um único lugar, mas sobre estender os galhos e oferecer sombra a quem precisa. Que a maternidade não se mede no número de filhos, mas no tamanho do amor que se doa.

A cada abraço que dei, a cada palavra que murmurei, eu sentia que minha vida ganhava mais cor. Porque, no fundo, todos precisamos de um pedaço de mãe em algum momento. E eu estava ali, não para ser tudo, mas para ser o suficiente naquele instante.

Hoje, quando olho para trás, vejo os rostos que cruzaram meu caminho. Não sei onde estão, nem o que se tornaram, mas sei que deixei algo com eles. Talvez um fio de esperança, talvez uma lembrança de carinho.

A vida não me fez mãe de ventre, mas me deu um presente maior: ser mãe de coração. E esse é um título que levo com orgulho, porque os filhos que cuidei não foram meus por sangue, mas por destino.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas