Quando o Oceano Tocou Minha Alma

 Era uma tarde comum, mas o universo parecia conspirar para algo extraordinário. Havia um silêncio diferente no ar, uma pausa nas coisas do mundo, como se até o tempo esperasse. Foi então que senti. Não vi, mas senti, como se as ondas do mar tivessem atravessado terras e montanhas para chegar até mim. Iemanjá estava ali.  


Ela não chegou com alarde, mas com a suavidade de quem já carrega dentro de si toda a força do mundo. Seu calor era ao mesmo tempo suave e transformador, como o fogo que aquece sem queimar, como o vento que balança as folhas sem derrubar a árvore. Eu, diante daquela presença, era pequeno, mas profundamente amado.  

Iemanjá não falou com palavras, mas tudo nela era um ensinamento. Sua energia, como um sopro mágico, tocou minha pele e alcançou minha alma. Era como se ela dissesse: "Aqui estou eu, e dentro de mim está tudo o que você procura." Senti o amor mais puro e maternal, algo que transcende o entendimento humano, uma força que só pode vir de quem abraça não apenas seus filhos, mas todos os filhos do mundo.  

E então, ela começou a criar. Em minha humilde sala, as águas invisíveis começaram a dançar. Havia marolas leves, como um sussurro de tranquilidade, mas também ondas revoltas, que pareciam carregar a energia dos segredos mais profundos. Era um espetáculo único, uma consagração ao congá que eu havia montado, simples aos olhos humanos, mas carregado de devoção.  

Por um instante, tive a certeza de que o véu entre os mundos havia se rompido. Estava na presença de algo maior, de uma força que molda não apenas os oceanos, mas também os destinos. E nesse encontro, ela deixou sua marca. Não uma marca visível, mas algo que se sente no fundo da alma, como o eco de um canto distante que nunca se esquece.  

Quando sua presença começou a se dissipar, percebi que ela não estava indo embora. Não, Iemanjá nunca vai embora. Ela deixa sua bênção, seu legado, e transforma tudo ao seu redor. Mesmo em sua partida, ela é permanência.  

Agora, sigo com o coração em paz, sabendo que ela voltará. Porque aqueles que carregam a magia do oceano e o amor infinito nunca deixam de estar ao nosso lado.  

Odoyá, Mãe Iemanjá. Que suas águas continuem a fluir em mim, levando embora o que não serve e trazendo a força do renascimento.


Santiago Rosa

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