Ogum, o Guerreiro que Marca o Solo Sagrado

 Ele chega, e o mundo parece parar. Um silêncio profundo antecede sua entrada, como se a natureza soubesse que é hora de reverência. No ar, um prenúncio de emoções fortes, e então o som do ponto ecoa, elevando cada canto daquele espaço. Ogum chegou, e com ele, uma força antiga, intensa e inabalável.


Seus passos pesados encontram o chão, marcando-o com propósito. Onde Ogum pisa, o solo se transforma, torna-se sagrado. É um gesto que fala mais do que mil palavras: ele reivindica o espaço como seu. Para ele, cada lugar onde se faz presente é um solo protegido, e ele finca ali a sua essência, deixando-a para aqueles que ousam buscar sua força.

Ele para, imponente, diante de mim, e seus olhos sérios me convidam a um pacto silencioso. Ele não precisa dizer nada – o chamado está ali, vivo no olhar, pulsante no ar ao redor. Ogum convida a cruzar armas com ele. Um convite à coragem, à confiança, à entrega. O mundo parece sumir por um instante, enquanto respiro fundo, aceitando o chamado, e sinto a proteção se instalar ao nosso redor, como uma fortaleza invisível e inquebrável. Bato sete vezes, e a força se crava em mim, firme, presente. É como se cada batida reforçasse um elo com ele, um laço que não se rompe, que só cresce.

Então, ele me oferece sua bebida. Um ato que é, em si, um rito sagrado. Aceitar sua bebida é mais do que um gesto; é compartilhar de sua força, receber um pouco de seu espírito, seu legado. Nesse momento, a lealdade é selada, e eu sinto que, mesmo nas batalhas mais solitárias, ele estará ao meu lado. A dança começa, e a energia se intensifica. Ele finca, mais uma vez, sua força naquele solo, transformando-o em um lugar onde só o sagrado pode entrar.

Mas, como toda visita, chega o momento da despedida. Ogum se afasta com a mesma força que chegou, deixando no ar um rastro de sua presença. Sinto uma mistura de saudade e gratidão, porque sei que, mesmo à distância, ele não me deixará. Sua força continua ali, como uma brisa que toca suavemente, como uma promessa silenciosa de proteção.

Ogum se despede, mas a cada passo que ele deixa para trás, algo seu permanece. Uma força que toca o coração, que protege, que orienta. Ele deixa a certeza de que somos capazes de enfrentar o mundo, de que, ao lado dele, nenhum desafio é grande demais. E, enquanto o ponto ainda ecoa ao longe, sinto que ele me deu muito mais do que posso descrever: um espírito de luta, uma marca de coragem, e a promessa de que, onde quer que eu vá, Ogum estará comigo.


Santiago Rosa

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