Flechas de Alegria: A Presença Viva de Cabocla Jurema

 Era um dia de celebração, o coração já batia mais forte, antecipando a chegada dela. Quando a Cabocla Jurema se aproxima, é como se o mundo todo mudasse de ritmo. Ela vem com uma alegria que é muito maior do que eu mesmo posso conter, um encanto que não cabe em palavras, mas que inunda o ambiente e me envolve, trazendo o poder da floresta e a sabedoria antiga de seus passos.

Ela firma o ponto com firmeza e graça, soltando suas flechas ao vento – flechas que, para quem tem olhos para ver, atravessam o ar com a precisão do sagrado, cortando o espaço e trazendo um silêncio profundo, como se tudo esperasse em reverência. A força que ela carrega contrasta com a doçura da sua voz de cabocla de pena, suave e penetrante, que chega direto ao coração.

Com seu olhar firme, ela acolhe cada parte de mim. Sinto que Jurema enxerga o que eu ainda não vejo, toca em lugares que desconhecia dentro do meu próprio peito, retirando sentimentos que eu nem sabia guardar. Em meio a tragadas de fumo e marolas de firmeza, ela vai me mostrando quem sou, com delicadeza e verdade. E enquanto ajusta o ponto, olha para mim com o carinho de uma mãe e diz: "Teu batedor tá ficando cada vez mais grande, mais bonito." E ao ouvir isso, algo dentro de mim desperta, como uma nova confiança, um chamado antigo que responde ao dela.

É então que, com uma respiração profunda, ela infla o peito e puxa uma flecha, lançando-a no espaço com um brado que ecoa pela imensidão, um grito de força e afirmação. Nesse instante, parece que todo o lugar se torna sagrado – não apenas o espaço físico, mas o agora, esse momento único. A energia dela é como um rio que passa e transforma, me permitindo entender que o que é sagrado não está distante, mas está aqui, bem do meu lado, em cada palavra, em cada olhar dela.

E apesar de desejar que esse momento dure para sempre, chega a hora de se despedir. A Cabocla Jurema, com sua reverência típica, pede licença para partir. Cada gesto, cada movimento dela é uma despedida respeitosa, um convite para reencontrá-la em outro tempo, mas sempre na mesma intensidade. Me despeço dela com o coração pesado de saudade, mas cheio de gratidão, pois sei que ela voltará. Ela sempre volta, como a maré que nunca falha. Okê, Cabocla Jurema.


Santiago Rosa

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