A Filosofia da Manada: A Comunicação da Espiritualidade

Naquele entardecer, sentei-me em um banco de praça como quem busca refúgio. Ao redor, a vida se desenrolava em sua beleza cotidiana: crianças brincavam com energia descomplicada, cachorros seguiam seus donos com passos sincronizados, e o sol, em seus últimos suspiros do dia, tingia o céu de um dourado suave. Era uma cena de paz, e, no entanto, algo dentro de mim estava inquieto, como se esperasse por um sinal, um chamado que ainda não sabia reconhecer.

Foi então que vi. Primeiro, ao meu lado, patas gigantescas, sólidas como pilares, as patas de um elefante. A surpresa me fez arregalar os olhos, mas não senti medo, apenas uma estranheza silenciosa. Olhei para outro lado e, para minha surpresa, havia mais elefantes. Muitos. Uma manada inteira cercava-me, imóveis, mas imponentes, como se me guardassem. Perguntei-me: “O que fazem aqui? O que isso significa?” A cena ficou comigo. Não era um susto que se dissiparia com o tempo. Era algo maior, algo que exigia atenção e contemplação. Durante o resto do dia, aquela visão pulsava em minha mente, como uma pergunta que precisava de resposta.

À noite, quando o corpo descansou, a resposta veio. E ela veio como só a espiritualidade sabe vir: com clareza, força e amor. A Rainha apareceu. Não havia como não reconhecê-la. Sua presença tinha o peso de um comando e a leveza de um carinho. Ela era a própria encarnação da sabedoria e da autoridade espiritual, e sua energia, embora serena, deixava claro que eu estava diante de algo maior que eu mesmo. “Você viu os elefantes,” ela disse, sua voz preenchendo o espaço entre o sono e o despertar. “Mas você entendeu o que eles faziam?”

Com um gesto de suas mãos, ela me mostrou a cena de um jeito novo. Os elefantes estavam dispostos em círculo. No centro, protegidos por aquela barreira viva, estavam os filhotes. “Quando os predadores rondam, a manada se reúne. Os maiores se posicionam ao redor, criando um escudo impenetrável. No centro, os mais vulneráveis descansam em segurança. É assim que eles cuidam dos seus. É assim que você está sendo cuidado.”

Eu compreendi. A manada não era apenas um grupo de elefantes. Era a representação da minha coroa espiritual, dos guias, dos Orixás e de Exu. Cada um deles, em sua sabedoria e força, formava um círculo ao meu redor, mantendo-me seguro mesmo diante das ameaças invisíveis. “Ogum marcha à frente,” continuou a Rainha, “mas ele não está só. Exu abre os caminhos, os guias caminham ao seu lado, e os outros Orixás compõem sua coroa. Eles formam um campo de força que você talvez nem perceba, mas que trabalha incessantemente para sua proteção.”

Havia algo mais em suas palavras. Ela não apenas me dizia que eu estava protegido, mas me chamava a entender o papel da espiritualidade em nossas vidas. “A proteção não é apenas algo que você recebe. É algo que você também vive. Quando você confia na sua coroa, quando se conecta com sua espiritualidade, você fortalece essa corrente. E mais: você se torna parte do círculo, alguém que também protege e cuida dos outros.”

Acordei com um misto de reverência e alívio. Aquela visão, aquelas palavras, eram mais do que um sonho. Eram uma resposta clara da espiritualidade, um lembrete de que estamos sempre amparados, mesmo quando o mundo parece incerto. A coroa do nosso Ori não é apenas um adorno espiritual; é um campo de proteção, uma estrutura viva que trabalha para o nosso bem.

E quando estamos abertos, quando permitimos que essa conexão floresça, os recados vêm: nos sonhos, nas intuições, nos sinais que aparecem ao nosso redor. A espiritualidade é ativa, presente, e age constantemente, mesmo quando não percebemos. Ela nos mostra que não estamos sozinhos, que cada passo é acompanhado, que cada desafio é enfrentado com uma falange de luz ao nosso lado.

Desde então, cada vez que penso nos elefantes, vejo neles a força do que é coletivo, do que é maior. Ogum, à frente, com sua espada e sua marcha incansável. Exu, abrindo os caminhos com sabedoria. Os guias, com sua paciência e amor. Todos formando o círculo, mantendo-me seguro e mostrando que a proteção é algo que recebemos e também algo que aprendemos a oferecer.

A mensagem da Rainha ficou gravada em mim: confiar, caminhar e permitir que a espiritualidade atue. Pois, no fim, estamos todos sob a proteção da manada invisível que nos envolve com força e amor.

Salve Ogum, salve a Rainha, salve a coroa que nos guia e protege!


Santigo Rosa

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