O Tempo que Te Atraiçoa e o Tempo que Te Alforria
por Santiago Rosa
A Abertura que Fere a Alma
Já sentiram, meus filhos, minhas filhas, o peso de um tempo que não anda, que se arrasta como cobra ferida no chão seco? Aqueles instantes onde os ponteiros do relógio, esses danados, parecem ter esquecido o seu giro, e cada segundo se espreguiça, pesado como melaço grosso a escorrer da colher da vida? É assim que a dor faz morada em nós, feito bicho-de-pé que entra sem pedir licença. Ela chega de mansinho, como gato miando no telhado molhado, e quando vocês se dão conta, já fez ninho no peito de vocês, botou ovos de angústia e criou uma ninhada inteira de pensamentos que não prestam, que só servem pra amarrar a gente.
A Promessa que Ecoa no Terreiro da Alma
Mas eu vim aqui hoje pra lhes fazer uma promessa que vai mexer com as estruturas mais fundas da alma de vocês, que vai fazer o coração de vocês bater mais forte, feito tambor no terreiro: vocês não precisam mais ser prisioneiros desse tempo que não passa, que os amarra. Não precisam mais viver nessa cadeia invisível onde cada pensamento amargo é uma algema nova a apertar o pulso de vocês. Existe um jeito de quebrar essas correntes, de se alforriar, e ele está mais perto de vocês do que a própria respiração, do que o ar que vocês respiram.
Vou lhes ensinar o que eu sabia, o que eu aprendi observando a natureza, conversando com as plantas no quintal, como se fossem gente, e prestando atenção no ritmo das estações, no balanço da vida. Vou lhes mostrar como transformar esse tempo que os prende, que os escraviza, no tempo que os alforria, que os liberta. Como fazer dos pensamentos de vocês aliados, em vez de inimigos que os rondam, como plantar sementes de paz onde antes só crescia mato de aflição, de sofrimento.
A Dor que Mora no Peito, Feito Assombração
Porque a verdade nua e crua, sem rodeios, é esta: vocês estão a sofrer mais do que é preciso, mais do que a alma de vocês aguenta. Estão a carregar dor que não lhes pertence, remoendo mágoa que já devia ter virado adubo pra terra, mastigando amargura que só deixa o gosto da vida mais sem graça, mais amargo que jiló. E o pior de tudo, meus filhos, é que vocês nem se dão conta que estão a fazer isso consigo mesmos, a se maltratar.
Quantas vezes vocês já se pegaram revivendo aquela prosa que deu errado, que lhes deixou com o coração apertado? Quantas madrugadas perderam, sem sono, imaginando cenários que nunca hão de acontecer, que só lhes tiram a paz? Quantas horas do dia de vocês foram sugadas por pensamentos que giram, giram, giram, feito roda de moinho velho, moendo a paz de vocês, triturando a alegria de vocês, transformando momentos preciosos em pó de tristeza, em pó de amargura?
Eu dizia que pensamento ruim é que nem panela no fogo sem ninguém a cuidar – se vocês não tiram do fogo, queima tudo e ainda deixa a casa cheia de fumaça, com cheiro de queimado, de coisa estragada. E é exatamente isso que acontece quando a gente deixa a mente solta, sem direção, sem cuidado, sem carinho, sem um rumo certo.
Os Gatilhos que Despertam o que não é bom
Vocês sabem qual é o primeiro sinal de que estão presos nesse tempo que não passa, que os amarra? É quando vocês olham pro relógio e se assustam com quantas horas se passaram sem perceber, mas ao mesmo tempo sentem que não viveram nada daquelas horas, que elas se foram em vão. É quando o dia parece uma eternidade, mas a semana voa, feito passarinho assustado. É quando vocês estão de corpo presente, mas a mente de vocês está lá atrás, remoendo o passado, ou lá na frente, se preocupando com o que ainda não veio.
Outro sinal é quando vocês percebem que estão sempre cansados, mesmo sem ter feito nada de especial, sem ter pegado no pesado. Porque pensar demais cansa mais que carregar saco de cimento nas costas, meus filhos. Eu costumava dizer: "Cabeça que não para é que nem motor desregulado – gasta combustível à toa e ainda faz barulho, um barulho que atordoa a alma."
E tem mais, meus filhos: quando vocês começam a sentir que a vida está a passar do lado de vocês, que todo mundo está a viver e vocês estão só a assistir, feito espectador, que as oportunidades chegam e vão embora sem vocês conseguirem agarrar nenhuma. Isso acontece porque pensamento ruim é que nem neblina densa – turva a vista e faz vocês perderem o caminho, o rumo da própria vida de vocês.
A Sabedoria do Terreiro, Que Vem de Longe
No terreiro da vida, eu aprendi que tudo tem seu tempo e seu jeito, seu próprio andar. Eu observava como a mandioca crescia devagar, mas firme, fincando suas raízes na terra. Como o milho precisava de chuva e sol na medida certa, nem mais nem menos. Como as galinhas sabiam quando era hora de chocar seus ovos e quando era hora de ciscar o chão, buscando seu alimento.
"A natureza não tem pressa, mas também não perde tempo", eu dizia, com a voz mansa, enquanto regava as plantas no fim da tarde, com o sol já se pondo. "Cada coisa acontece quando tem que acontecer, e forçar só serve pra estragar, pra desandar o que é bom."
E foi observando essa sabedoria natural, que vem dos mais velhos, que eu descobri o segredo, a chave da liberdade: pensamentos ruins são que nem erva daninha – se vocês não cuidam, eles tomam conta de todo o jardim da mente de vocês, sufocando o que é bom. Mas se vocês aprendem a identificar, a arrancar na hora certa e a plantar coisa boa no lugar, o jardim mental de vocês fica florido o ano todo, com cheiro de alecrim e arruda.
O Ensinamento que Transforma a Alma
Eu tinha um ritual simples, mas poderoso, que eu fazia com fé. Toda manhã, antes mesmo de acender o fogão, eu me sentava na varanda, com os olhos fitos no horizonte, e fazia uma limpeza mental. "Igual varrer a casa", eu explicava, com um sorriso no rosto. "Não adianta só tirar o lixo de vez em quando. Tem que ser todo dia, senão acumula e vira praga, vira doença da alma."
Eu fechava os olhos e imaginava minha mente como um quintal vasto. Primeiro, identificava os pensamentos que eram como mato ruim – aqueles que só serviam pra sugar a energia das plantas boas, da alegria. Depois, com cuidado e firmeza, arrancava cada um pela raiz, agradecendo pela lição que trouxeram, mas deixando claro que não eram mais bem-vindos, que não tinham mais lugar ali.
Em seguida, eu plantava pensamentos novos, como quem planta sementes escolhidas a dedo, com carinho. Pensamentos de gratidão, de esperança, de amor próprio, de confiança no futuro, naquilo que há de vir. E regava cada um com a água da minha atenção, do meu carinho, da minha intenção, com a força da minha fé.
A Linguagem que Cura e Acalma
"Palavra tem poder, meus filhos", eu sempre dizia, com a voz grave. "Palavra mal dita é que nem praga jogada, que se espalha. Palavra bem dita é que nem benção plantada, que floresce." E eu sabia que a primeira pessoa que escuta nossas palavras somos nós mesmos. Por isso, eu cuidava do que falava, especialmente do que falava pra mim mesma, em meu íntimo.
Quando me pegava pensando algo ruim sobre mim mesma ou sobre a vida, eu parava tudo e dizia em voz alta, com firmeza: "Cancelo essa palavra e planto outra no lugar." E plantava mesmo, com a força da minha vontade. Se tinha pensado "não vou conseguir", plantava "vou encontrar um jeito, com a ajuda de Deus". Se tinha pensado "a vida é difícil", plantava "a vida me ensina e me fortalece, me faz mais forte".
Não era fingimento nem mentira, meus filhos. Era cuidado. Era carinho comigo mesma. Era entender que a mente é que nem terra fértil – o que tu plantas nela, ela faz crescer, seja bom ou ruim. E se tu não escolhes o que plantar, ela faz crescer qualquer coisa, até o que não presta, o que te faz mal.
O Tempo que Te Alforria
E assim, dia após dia, eu fui aprendendo a viver no tempo que alforria, que liberta. O tempo presente, onde a vida realmente acontece, onde o agora é tudo. O tempo onde vocês podem escolher os pensamentos de vocês, onde podem decidir em que focar a atenção de vocês, onde podem plantar sementes de paz em vez de regar plantas de aflição, de sofrimento.
Eu descobri que quando vocês param de alimentar pensamentos ruins, eles definham sozinhos, como planta sem água, sem vida. E quando vocês começam a cultivar pensamentos bons, eles crescem e se multiplicam, como erva boa que se espalha pelo jardim, perfumando tudo.
O tempo deixou de ser inimigo e virou aliado, um companheiro de jornada. Os dias começaram a fluir como rio manso, cada momento sendo vivido por inteiro, cada experiência sendo saboreada como fruta madura, colhida no pé. A vida ganhou sabor, cor, perfume, um novo sentido. E a paz que eu tanto busquei lá fora, descobri que sempre esteve lá dentro, esperando ser cultivada, esperando florescer.
O Convite que Ecoa no Vento
Agora eu lhes pergunto, meus filhos, minhas filhas: vocês estão prontos pra fazer essa limpeza no jardim da mente de vocês? Estão dispostos a parar de ser prisioneiros dos próprios pensamentos e começar a ser jardineiro da própria paz, da própria felicidade de vocês?
Porque o ensinamento da Vovó Maria não é só história bonita pra contar, pra se ouvir. É ferramenta de trabalho, é receita de liberdade, é mapa do tesouro que está enterrado dentro de vocês, esperando ser descoberto. E o tesouro é este: a capacidade de escolher como vocês querem se sentir, independente do que está acontecendo lá fora, no mundo.
O tempo que os prende é ilusão, é miragem. O tempo que os alforria é realidade, é verdade. E a chave pra passar de um pro outro está nas mãos de vocês, na atenção de vocês, na escolha de vocês de plantar pensamentos que nutrem a alma em vez de pensamentos que drenam, que os esgotam.
Eu, Vovó Maria, não estou mais aqui de corpo presente pra ensinar pessoalmente, mas deixei a sabedoria plantada em quem soube escutar, em quem teve ouvidos pra ouvir. E agora essa sabedoria chega até vocês, como semente levada pelo vento, procurando terra boa pra germinar, pra criar raízes.
A pergunta que fica é: vocês vão ser a terra boa onde essa sabedoria vai florescer, onde a paz vai fazer morada?
.png)


LINDO! LINDO! LINDO! 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏😍😍😍😍😍😍😍
ResponderExcluir