A Essência da Existência: Matéria, Espírito e a Escolha da Energia

por Santiago Rosa

 No vasto e intrincado tear da existência, onde o visível e o invisível se entrelaçam, somos mais do que simples corpos que habitam a terra. Somos a própria matéria, sim, mas uma matéria que pulsa com a essência do espírito, e um espírito que se manifesta em pura energia. Tudo o que nos cerca, desde a menor partícula de poeira até as mais grandiosas estrelas, é energia em constante movimento, em perpétua transformação. E é nessa dança cósmica, nesse balé sagrado entre o denso e o sutil, que reside a nossa maior liberdade e a nossa mais profunda responsabilidade: a de escolher qual energia carregar, qual vibração emanar, qual caminho trilhar.

"Matéria é espírito, espírito é energia, e cabe a cada um de nós escolher qual energia carregar", ecoa a voz da Cabocla Jurema, com a sabedoria que vem das matas e dos tempos, um ensinamento que se aninha na alma e faz morada no coração. Essa verdade, simples em sua formulação, mas profunda em seu significado, desvela os véus que encobrem a nossa percepção e nos convida a um mergulho nas águas límpidas do autoconhecimento. Não somos meros receptores passivos das circunstâncias; somos cocriadores da nossa realidade, tecelões do nosso destino, com o poder de moldar o nosso mundo interno e, por consequência, o externo.

Compreender que matéria e espírito são feitos de energia é o primeiro passo para desvendar os mistérios da nossa própria existência. Nós, seres desta vivência, nos nutrimos de energia, vibramos de energia, precisamos de energia em todos os momentos. Desde o alimento que nos sustenta, a água que nos hidrata, o ar que respiramos, até os pensamentos que cultivamos e os sentimentos que nos movem – tudo é energia. A qualidade dessa energia que escolhemos absorver e emanar é o que define a nossa saúde, a nossa paz, a nossa alegria, a nossa prosperidade. É por isso que temos que fazer a escolha pelas melhores energias sempre.

Quantas vezes nos vemos presos em emaranhados de energias densas, de pensamentos sombrios, de sentimentos que nos puxam para baixo? É a dor que se instala, o medo que paralisa, a raiva que consome. E nessas horas, esquecemos que a escolha é nossa, que a chave para a libertação está em nossas mãos. A matéria, essa que nos constitui, é um reflexo do espírito que a habita. Se o espírito está turvo, a matéria adoece. Se o espírito está leve, a matéria floresce. É um ciclo contínuo, uma troca incessante, onde a energia que emitimos retorna a nós, amplificada, como um eco no universo.

Não se trata de negar a dor, de ignorar os desafios. A vida, essa mestra implacável, nos apresenta provações para o nosso crescimento. Mas a forma como reagimos a essas provações, a energia que escolhemos nutrir diante delas, é o que define a nossa jornada. Podemos nos apegar à tristeza, nos afogar na lamentação, ou podemos buscar a força que reside em nosso interior, a resiliência que nos impulsiona a seguir em frente, a fé que ilumina os passos mesmo nas noites mais escuras. A escolha é sempre nossa, a cada instante, a cada respiração.

É tempo de despertar para essa verdade ancestral, de reconhecer o poder que reside em cada um de nós. A energia que carregamos não é apenas nossa; ela se espalha, contamina, transforma o ambiente ao nosso redor. Um sorriso sincero, uma palavra de carinho, um gesto de compaixão – tudo isso emana uma energia que se propaga, que toca outras almas, que ilumina outros caminhos. Da mesma forma, a raiva, o julgamento, a inveja – essas energias densas também se espalham, criando um campo de desarmonia e sofrimento. Somos responsáveis pelo que emanamos, pelo que cultivamos em nosso jardim interior.

Que possamos, então, com a sabedoria dos mais velhos e a pureza das crianças, escolher a energia do amor, da gratidão, da compaixão. Que possamos nos conectar com a força da natureza, com a sabedoria dos orixás, com a luz dos guias espirituais que nos amparam em nossa jornada. Que a nossa matéria seja um templo para um espírito elevado, e que a nossa energia seja um farol que ilumina o caminho de todos que cruzam a nossa estrada. Não se trata de uma busca por perfeição, mas sim por autenticidade, por alinhamento com a nossa essência divina. É um convite à auto-observação, à reflexão sobre o que estamos nutrindo em nosso ser e o que estamos oferecendo ao mundo.

Lembre-se, meu filho, minha filha, que a vida é um constante aprendizado, um eterno ir e vir. Haverá dias de sol e dias de tempestade. Haverá momentos de leveza e momentos de peso. Mas em cada um desses instantes, a escolha de qual energia carregar será sempre sua. É a  livre escolha, o presente sagrado que nos foi concedido. A espiritualidade, em sua infinita sabedoria e amor, nos orienta sempre para que façamos o melhor por nós, nos aponta caminhos de luz e axé, mas jamais interfere em nossa livre escolha. Ela respeita a nossa jornada, a nossa capacidade de discernimento e a nossa autonomia. Use-o com sabedoria, com discernimento, com a certeza de que cada vibração que você emana molda a sua realidade e contribui para a teia coletiva da existência. Que a sua energia seja um bálsamo para a alma, um alimento para o espírito, uma força que impulsiona o bem e a luz.

Que a força de Oxalá nos abençoe, que a nossa energia seja sempre de axé, de luz, de amor. Salve a força que nos habita! Salve a energia que nos conecta! Salve a vida em sua plenitude!