Você Não Sai o Mesmo: O Que Um Terreiro Regido por Oxum e Oxumarê Pode Despertar em Você

O chão do terreiro não mente.

Quando Oxumarê chega, é como se o mundo respirasse de novo.
A poeira levanta, gira em espiral, dança como cobra encantada.
E a gente sente — com a sola do pé, com o miolo do peito — que alguma coisa vai mudar.

Não é mudança qualquer.
É virada de tempo.
É desmanche de nó antigo.
É dobra de caminho pra onde só o coração ousa ir.

No princípio de todo terreiro, antes mesmo do primeiro ponto ser riscado, já se escuta o chamado.
E é esse chamado que revela qual Orixá — ou quais — vão reger aquele chão sagrado.
É ali, entre as folhas, os búzios e o silêncio atento dos guias, que se descobre o norte.
A força que vai sustentar, proteger e conduzir todos os trabalhos.

Não se escolhe Orixá à toa. É ele quem escolhe.
E quando é Oxumarê quem aponta, o terreiro se veste de movimento.
E quando Oxum também firma sua força, o terreiro aprende a amar com firmeza.


Oxumarê é o senhor da continuidade, da transformação constante, do eterno recomeço.
Orixá do arco-íris e da serpente, ele une céu e terra, corpo e espírito, começo e fim.
Traz consigo a sabedoria de que tudo se renova, e que só renasce quem tem coragem de mudar.

Oxumarê vem no rastro da lágrima que lava o rosto e limpa os olhos pra enxergar de novo.
Vem na reza sussurrada por quem não desiste, mesmo quando o mundo pesa.
Porque ele é ponte entre o que se foi e o que pode ser.
É cordão de luz entre a queda e o voo.

No terreiro que é casa e ventre, Oxumarê serpenteia em cada canto.
Na guia colorida, no pano dobrado no congá, no corpo que gira no transe e se reencontra.
Tudo nele é curva. É volta. É ciclo.
Nada morre onde ele pisa.
Tudo se transforma.

E quem já viu a gira sob o seu axé, sabe.
Sabe que ele não grita — sussurra.
Que ele não exige — encanta.
E no encantamento, tudo que tava parado se mexe.
Tudo que era seco se molha.
Tudo que doía aprende a dançar.

Oxumarê não promete céu limpo — ele entrega arco-íris.
Não garante caminho reto — oferece renovação.
Porque viver sob sua força é aceitar que a vida se repete, mas nunca do mesmo jeito.
É saber morrer e renascer sem medo, com fé.

E ali, debaixo do seu arco, cada passo é benção.
Cada queda é um convite pra levantar mais bonito.
Cada lágrima é batismo pra um recomeço.

Oxumarê ensina que viver é se deixar levar.
É confiar na dança da vida.
É saber que o fim é só mais um começo que ele, serpente divina, já preparou.


Mas quando Oxum também reina, o terreiro aprende o segredo do espelho.
Aprende que refletir é mais do que ver o rosto — é se enxergar inteiro, com amor e com verdade.
Oxum chega leve, mas não chega fraca.
Ela é doce como rio de mina, mas firme como pedra de cachoeira.

Seu axé é de colo, de cuidado, de beleza.
Mas também é de sustento, de riqueza que vem da ancestralidade, de realeza que se planta com fé.
No terreiro onde Oxum reina, há flor, mas há raiz.
Há canto, mas também silêncio.
Há brilho de ouro no olhar de cada filho, porque Oxum ensina a encontrar valor naquilo que o mundo costuma desprezar.

Ela acolhe quem vem cansado do mundo.
Ela cura com palavra, com toque, com lágrima que não se esconde.
E ensina que prosperidade não se mede só em bem material — mas em afeto partilhado, em mesa farta de carinho, em rezo que atravessa gerações.

Oxum é força que sustenta com leveza.
É coragem vestida de delicadeza.
É mãe que ri enquanto ensina.
E no terreiro, sua presença se sente na beleza das flores, no brilho das velas, na harmonia que costura cada gira como ponto bordado à mão.


Quando Oxumarê e Oxum se encontram num mesmo terreiro, não é só fé — é milagre de convivência entre força e ternura, entre mudança e sustento, entre arco e espelho.

É terreiro que dança com o tempo e ama com profundidade.
Que transforma e acolhe.
Que quebra os ciclos de dor pra erguer caminhos de cura.
É casa de água e de luz, de encantamento e pé no chão.

É terreiro que não apenas recebe — renova.
Não apenas gira — floresce.
Não apenas canta — ora com o corpo inteiro.

Sob o arco de Oxumarê e o espelho de Oxum, o rezo tem mais cor, mais brilho, mais verdade.
Porque é rezo que nasce do ventre da fé, mas também da vida vivida, sentida, partilhada.

E quem pisa nesse chão, sente:
Não voltou o mesmo.
Voltou mais inteiro.

Comentários

  1. QUE LINDO, EMOCIONANTE E VERDADEIRO! 😍😍😍😍😍😍😍😍😍😍😍😍

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas